sexta-feira, 29 de abril de 2011

Que saudades do meu Maraca!


Domingo tem mais um jogão de bola com a final da Taça Rio. Flamengo e Vasco fazem o “Clássico dos Milhões”, só que infelizmente não vou poder cantar uma musiquinha que todo o torcedor conhece: “Domingo, eu vou ao Maracanã/ Vou torcer pro time que sou fã.”


Pois é, parceiro, o palco mais famoso do futebol brasileiro está fechado para as obras da Copa. E pra piorar a situação, quando comecei a frequentar o Engenhão é que percebi como o Maraca faz falta. Se no “Maior do Mundo” você tem duas estações de metrô na porta do estádio e largas avenidas, no estádio João Havelange é preciso atravessar um labirinto de ruas apertadas – sempre engarrafadas – ou descer na única estação de trem do bairro, o que acaba sendo perigoso porque, em dia de decisão, as duas torcidas chegam juntas. É muito ruim também pra quem mora perto das estações de Ramos, Bonsucesso, Penha e Olaria e precisa ir até a Central pra pegar outro ramal – uma contramão dos infernos. Dá uma tristeza só de pensar que pra ir ao Maraca, que tinha o dobro de lugares, era muito mais tranquilo. Ontem faltou luz no jogo do Fluminense pela Libertadores, que só terminou de madrugada. Sair de lá por volta de uma da manhã não deve ser mole.

E o que dizer da bagunça em volta do Engenhão? O Engenho de Dentro é um bairro residencial, com calçadas estreitas. Quando algumas pessoas que moram perto do estádio perceberam que podiam fazer dinheiro vendendo alimentos dentro de casa, transformaram a garagem de suas casas em bares e lanchonetes, acumulando uma multidão e atrapalhando o trânsito. A baderna come solta em todos os jogos.

Logo agora que o Maraca estava mais seguro e tranquilo nos últimos tempos. Era proibido vender bebida alcoólica duas horas antes e duras horas depois dos jogos, cambistas e flanelinhas não tinham vez e os ambulantes tinham desaparecido – dava até pra ver a cor do calçadão e da ciclovia em volta do estádio.

O torcedor carioca não se acostumou mesmo com o Engenhão, parceiro. É longe, é ruim de chegar, difícil de entrar e sair do estádio. Pra aguentar a saudade do Maraca – que só deve reabrir daqui a dois anos – só me resta dar uma de Galvão Bueno e dizer: Haja coração.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Xixi na rua

Demorou, levei quarenta dias para me dar conta, mas essa quaresma me fez pensar sobre muita coisa que aconteceu no último carnaval. Logo eu, frequentador dos desfiles na Sapucaí e de quase todos os blocos de rua da cidade, tive uma das sensações mais desagradáveis da minha vida e vi que nem tudo é confete e serpentina: Me pegaram fazendo xixi na rua!

Juro que não sabia o motivo, isso sempre foi normal para mim. Sabe como é, uma cervejinha aqui, uma caipirinha ali, na hora que aperta você acaba se aliviando em algum lugar pertinho ou meio escondido. Só que dessa vez eu quase estraguei minha folia.

Eu estava com minha fantasia de pierrô quando me pegaram com a mão na massa. Foi aí que comecei a entender uma marchinha que as pessoas cantavam no bloco e que depois descobri que era do João Roberto Kelly. “Quer fazer xixi, não faz aqui”. É parceiro, eu sujava as ruas por desleixo e não pensava nisso, muito menos se alguém ia me levar a mal. Eu só estava apertado.

A alegria do carnaval virou apreensão quando me disseram que teria que ir para a delegacia por atentado ao pudor. Até então eu era ficha-limpa, com ou sem recurso no Supremo Tribunal Federal, mas tive que assinar um Boletim de Ocorrência, o famoso BO.

Quando saí, comecei a me perguntar se o que eu fazia era errado, afinal – na minha santa ignorância – eu achava que só ladrão ia parar na delegacia. 

Na quarta-feira de cinzas eu queria saber por que o xixi na rua era tão ruim. Depois de alguns minutinhos pesquisando na internet, descobri que a arquibancada do estádio da Fonte Nova, em Salvador, um dos mais tradicionais do Brasil e que vai sediar jogos da Copa de 2014, caiu por culpa do xixi dos mal-educados de plantão em 2007, matando sete pessoas. A acidez da urina atacou a estrutura e contribuiu para a tragédia. E como isso não fosse suficiente, li também que o fedor costuma ficar por dias em ruas onde muitos porcalhões costumam dar aquela aliviadinha.

Outra coisa que não sabia é que não preciso consumir em bares e restaurantes para ter o direito de ir ao banheiro. Se o dono de algum estabelecimento proibir o acesso, corre o risco de perder o alvará.

Eu que sempre me achei esperto, convicto de que amava o Rio, vi que era um grande desavisado que sujava minha cidade.

Mesmo achando que precisamos de mais banheiros químicos, nada justifica o xixi na rua. Depois de 40 dias, a ficha caiu, parceiro. Esse lance de achar que a rua é o banheiro de casa já era.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Chove Chuva

Choveu a cântaros e sem parar durante nove horas a mesma quantidade que era esperada para o período de 40 dias. Só faltou cair canivete. Foram 274 milímetros só na Grande Tijuca, foi água que não acabava mais. Naquela chuvarada de abril do ano passado foram 300 milímetros. Deve ser brabo ficar ilhado na Praça da Bandeira dentro carro ou no ônibus por horas esperando o socorro dos bombeiros chegar de barco. Enquanto escrevo, a estrada Grajaú-Jacarepaguá continua fechada por uma pedra de 600 toneladas. Se chegar no trabalho já foi brabo, imagina voltar pra casa hoje?
Foto: G1


No dilúvio do ano passado, tive medo de sair de casa assistindo o caos pela televisão. Hoje de manhã a sensação foi parecida, mas resolvi encarar. Foi um trânsito dos infernos, não tão ruim quanto eu esperava ou diferente do que acontece na véspera de um feriadão. A visão foi a de sempre, muita lama e gente limpando a sujeira.
Quando cai uma aguaceira dessas, logo me lembro das tragédias da região Serrana e do morro do Bumba. Aqui no Rio, algumas famílias foram removidas de encostas na Grajaú-Jacarepaguá ano passado, um mês antes das chuvas de abril. Muita gente esperneou dizendo que era uma política contra pobres. Quando caiu aquele temporal e um deslizamento soterrou o lugar onde estavam as casas, as mesmas pessoas que protestavam perderam seus argumentos.
No meio de tanta aflição, vi que pela primeira vez sirenes deram alertas para moradores de 11 comunidades em áreas de risco. Na região Serrana, pessoas morreram porque não foram avisadas a tempo. O prefeito da cidade de Areal mandou que um carro de som alertasse a população sobre o risco de alagamentos e salvou vidas. Nas comunidades da Tijuca, muitas famílias saíram de casa de madrugada com o alerta, mas alguns confundiram o som com a sirene dos bombeiros e irresponsavelmente não procuraram um lugar seguro para si e a própria família. Bem que essa cultura de prevenção de desastres naturais, como acontece em todos os países civilizados, podia pegar aqui também.