Dia desses lendo o jornal, vi que a agência Casa 7 está fazendo uma pesquisa de opinião para descobrir quem é o carioca de verdade. A forma escolhida pela equipe para realizar essa ronda no universo carioca, ou melhor, o veículo escolhido foi uma kombi 1972 que vai rodar a cidade desenvolvendo estudos in loco, ou seja, na prática mesmo. A tal kombi inspirada, veja só, no filme Miss Sunshine (aquela amarela). A quebra de alguns paradigmas surpreende. Um deles é como o orgulho de ser carioca pode ser distorcido. Quem mora aqui acredita ser acima do bem e do mal, principalmente nos maus hábitos. A pesquisadora da agência, Adriana Hack, falou que o excesso de autoestima causa um grande problema para a própria cidade. “O carioca se acha, viaja tanto nele mesmo que não reage, não se move, não faz nada pela cidade. A malandragem, o jeitinho carioca derruba a gente mesmo”. É um soco na boca do estômago, parceiro.
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Coluna "Gente Boa" de Joaquim Ferreira dos Santos (O GLOBO), do dia 15/04 |
Outra pesquisadora da Casa 7, Madu Sisternes, acha que a responsabilidade de sediar eventos importantes como a Copa do Mundo e a Olimpíada, jogam o nome do país e da cidade lá para cima. Isso pode mudar alguns hábitos, como a lei do mais esperto, e pesar na consciência coletiva, já que o mundo todo vai ficar de olho no Rio. “Sabe essa coisa de não furar fila, não entrar de penetra na festa? É isso! O carioca já está ficando mais exigente na relação consumidor, exigindo mais respeito e agilidade nos serviços”.
Reclamar é típico do carioca, sem isso perdemos nossa identidade. Outro dia o Ruy Castro disse no rádio que muitos prédios históricos federais se degradaram durante décadas por implicância de Brasília só porque o Rio era foco de resistência contra a ditadura militar. Hoje os tempos são outros, não dá mais pra vestir a carapuça da rebeldia e dar mau exemplo. Só protestar não vale, tem que participar. Pense aí quantas coisas erradas você faz usando uma desculpa esfarrapada? “É só hoje, não vai atrapalhar ninguém”. Vamos ver se na Copa e na Olimpíada mudamos nossos hábitos pra valer e não só pra inglês ver. Uma cidade maravilhosa por natureza, com um povo tão carismático e consciente de seu potencial, tem que parar de pensar no próprio umbigo.